Não é um elogio. É um fato.
Todos aqueles que o conhecem admiram sua generosidade, sua luta de décadas contra o racismo e seu talento poético. Ninguém (exceto alguém que seja ninguém) pode deixar de perceber a sua grandeza. Mas, talvez, a sua simplicidade, a sua humildade de homem pobre, sensível ao sofrimento de todos os seres humanos, em suma, suas mais profundas qualidades humanas, tornem difícil a percepção de toda esta grandeza. Este não é um problema dos grandes homens, antes é daqueles que convivem com a sua grandeza.
No entanto, Eduardo de Oliveira é o poeta que Tristão de Ataíde (Alceu de Amoroso Lima), um dos maiores críticos literários da história de nosso país, já na década de 60 destacou como um dos três fundadores mundiais da negritude em literatura: “E a poesia, com um Aimé Cesaire, com um Senghor ou com um Eduardo de Oliveira (….) tem um papel decisivo a representar. Não apenas como instrumento de redenção, mas como voz da própria beleza eterna, inseparável da verdade e do bem, nos desígnios de Deus” (Tristão de Ataíde, 1966, cit. in Zilá Bernd, “Poesia Negra Brasileira”, AGE, Porto Alegre, 1992, pág. 58).
Uma vez, ao fim de uma conversa algo acidental com um autor que, sem dúvida, não está entre nossos preferidos, o historiador americano Thomas Skidmore, ouvimos dele: “Somente entendi o problema racial brasileiro quando conheci o professor Eduardo de Oliveira”. Não sabemos se Skidmore - que em 1974 publicou “Black Into White: Race and Nationality in Brazilian Thought” (“Preto No Branco: Raça e Nacionalidade no Pensamento Brasileiro”) - entendeu ou não o problema racial brasileiro, e até que ponto. Mas essa declaração nos pareceu muito mais digna de respeito do que algumas de suas tentativas “brazilianistas” de escrever a História do Brasil do ponto de vista dos EUA.
“Além do Pó” apareceu numa data especial – 13 de maio de 1958. Com ele surgia o mais genuíno dos continuadores de Luiz Gama, na literatura, no combate, na inteligência e na grandeza de espírito.
Como já notaram não poucos comentaristas, Eduardo de Oliveira, ao resgatar o negro e sua ancestral herança africana, desbrava a vereda ainda mais ampla do reencontro de todos os seres humanos com suas raízes comuns. Para que o ser humano seja livre, é preciso que o negro seja resgatado da opressão, que sua história, sua arte e sua cultura sejam tiradas da invisibilidade. Porque, enquanto o homem negro não for livre, nenhum homem será livre.
Assim, em “Gestas Líricas da Negritude” (1967), o soneto que provê o título do livro tem por tercetos finais: “Eu seguirei feliz, de braços dados/ com meus irmãos dos cinco continentes.../ que a todos amam, porque são amados.// E quando se ama a Humanidade inteira,/ os ideais – por mais nobres, mais ardentes -/ irmanam-se numa única bandeira”.
No mesmo livro, há um dos poemas definitivos da literatura brasileira, “Voz Emudecida”, que começa com os versos: “Eu me levanto aqui/ na voz dos que não podem falar”.
Hoje, escolhemos “Banzo”, do livro de mesmo nome (1965), para homenageá-lo. Mas poderia ser outro poema de seus vários livros, entre eles, Ancoradouro (1960), Evangelho da Solidão (1969), Túnica de ébano (1980), A Cólera dos Generosos (1988). O poeta é, também, o autor da enciclopédia “Quem é Quem na Negritude Brasileira”.
A homenagem a Eduardo de Oliveira será em São Paulo, no restaurante Casa da Fazenda, avenida Morumbi, 5.594. Os leitores que quiserem adquirir convites, poderão fazê-lo através do Congresso Nacional Afro-Brasileiro, telefones 3628-3584 e 3628-3585.
CARLOS LOPES
fonte:http://www.horadopovo.com.br/
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