1911, NJahulu II é coroado rei do povo do Mbailundu, hoje Bailundo, da etnia Ovimbundu, o mais forte do planalto de Benguela, na região central de Angola. Cem anos depois, essa coroação é relembrada pelo filme Afrocariocas, do angolano Aristóteles "Tótti" Kandimba, em fase de conclusão
POR OSWALDO FAUSTINO
(A partir da esq.) Meri Santiago, Tata Barcellos, Letícia Enne, Karla da Silva e Marina Alves |
Motivado pelo fato de a Organização das Nações Unidas (ONU) ter declarado 2011 o Ano Internacional para Descendentes de Africanos, esse jovem cineasta realizou (com recursos próprios) esse filme que revela um elo profundo entre a coroação desse rei e os Ovimbundos que foram trazidos escravizados para o Rio de Janeiro.
N’Jahulu, na língua desse povo, quer dizer “o caminho”.
Spirito Santo, integrante do Grupo Cultural Vissungo |
Para quem argumenta que, naquela época, já não havia mais escravidão, “Tótti”, que já coordenou alguns festivais de cinema africano, rebate: “Ouvimos da boca do nosso avô, Satchingongue, pai do meu pai, nascido em 1910, que ainda existia escravidão no início do século passado, algo que se pode considerar clandestino. Os mais velhos presenciaram. Existem histórias semelhantes à do meu avô em outras partes do continente africano.”
O objetivo da ONU, em 2011, era combater o racismo e as desigualdades econômicas e sociais. Já o cineasta aproveita a efeméride para recontar histórias transmitidas de pai para filho durante quatro gerações. Entre depoimentos de brasileiros negros do Rio de Janeiro e uma estudante nigeriana, vai se tecendo a trama desse documentário que conta com a presença luxuosa de personagens como o ator Rodrigo dos Santos; o compositor e historiador Spirito Santo, integrante do Grupo Cultural Vissungo; a bancária Leticia Enne; a dançarina Ana Beatriz Almeida; a estudante nigeriana de medicina Isioma Akolo; a cantora Karla da Silva (The Voice Brasil); a antropóloga Marina Alves; a professora Tata Barcellos; a estilista Meri Santiago e a cineasta Delanir Cerqueira.
Segundo Aristóteles, Afrocariocas teve como motivação “a necessidade de renascer das cinzas, recomeçar um diálogo eficaz e marcante entre as duas comunidades: a África e a diáspora africana.” Fundador do Festival de Filmes de Capoeira, realizado em Amsterdam, na Holanda, onde ele reside, e em Tel Aviv, em Israel, ele pretende, com seu primeiro filme, “refletir o passado em prol de um processo de reconciliação de nossa identidade. Somos o mesmo povo, mas infelizmente, e por razões históricas, não nos conhecemos. Afrocariocas, é um reencontro jubilante entre uma mãe e os seus filhos, que dela foram arrancados com muita violência.”
O angolano Aristóteles “Tótti” Kandimba |
Vale a torcida para que o filme fique pronto logo para que possamos nos reencontrar com nossa ancestralidade e conosco mesmos. Afinal, alguém tem dúvida sobre nossas origens? E, se ela vem de uma família real, tanto melhor, não é mesmo?
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