Método histórico-dialético, pedagogia histórico-crítica e didática
Márcia Aparecida Schuveter e José Benedito de Barros *
O presente texto pretende apresentar de forma sucinta os pontos fundamentais de uma didática para pedagogia histórico-crítica que é uma tradução pedagógica do método histórico-dialético. Não faremos referência explícita a este ou aquele autor, pois nosso intuito é incentivar a leitura dos autores nos quais nos baseamos. Para isso, no final do texto indicamos uma bibliografia básica para leitura e reflexão.
O método histórico-dialético tem três elementos fundamentais: a afirmação (tese), a negação (antítese) e a superação (síntese).
Quando se analisa a realidade utilizando-se o método histórico-dialético, parte-se da prática social (realidade). Essa prática social é confrontada com a teoria. Após esse confronto, volta-se à prática social, mas com um instrumental que possibilita a superação daquela prática social inicial.
A pedagogia histórico-crítica tem como ponto de partida uma análise crítica do modo de produção, ou seja, a forma como em uma determinada sociedade os seres humanos produzem sua existência. Um modo de produção tem pelo menos dois elementos fundamentais: as forças produtivas, também conhecidas como meios de produção (indústrias, máquinas, terras, ferramentas) e as relações de produção (respondendo-se às perguntas: “quem produz?”, “para quem produz?”, “para que produz”, “quem se apropria do que é produzido?”, etc.). O estudo das relações de produção nos mostra se uma sociedade é dividida em classes sociais ou se é uma sociedade sem essa divisão; se as relações são de exploração ou não; se se trata de uma sociedade marcada pela competição ou pela cooperação.
A pedagogia histórico-crítica propõe: a união entre trabalho intelectual e manual (pensar e fazer); a união entre estudo e trabalho produtivo; a formação politécnica; a formação integral do ser humano; a formação para a cooperação; uma educação para formar o cidadão autônomo, crítico, participativo e engajado em sua comunidade visando à superação de sua situação inicial. Para que isso aconteça essa pedagogia defende que os alunos devem ter acesso aos conhecimentos científicos produzidos pela humanidade, cabendo à escola a função de fazer com que os alunos tenham acesso a eles.
Para possibilitar o acesso dos alunos ao conhecimento o professor em seu trabalho em sala de aula deverá seguir cinco passos: levantamento da prática social inicial e do conhecimento que o aluno e o professor já têm sobre o conteúdo a ser trabalhado; problematização; instrumentalização; catarse; e prática social final do conteúdo.
Quanto ao primeiro passo, a prática social inicial e os conhecimentos que aluno e professor já têm sobre o conteúdo trata-se de uma preparação, uma mobilização do aluno para a construção do conhecimento escolar. É uma primeira leitura da realidade, um contato inicial com o tema a ser estudado. Uma das formas para motivar os alunos é conhecer sua prática social imediata a respeito do conteúdo curricular proposto.
Cabe ao professor nesse momento, fazer o anúncio dos conteúdos, instigar o aluno para a vivência cotidiana dos conteúdos, mostrando-lhes que o mesmo, de uma forma ou de outra, está presente no seu cotidiano, tirando-lhes da tradicional posição de meros receptores de um conteúdo já pronto.
O segundo passo é a problematização, que é a explicitação dos principais problemas da prática social. Trata-se de um processo de busca, de investigação para solucionar as questões em estudo, é o caminho que predispõe o espírito do educando para a aprendizagem significativa, uma vez que são levantadas situações-problema que estimulam o raciocínio.
Essa problematização tem como finalidade selecionar as principais interrogações levantadas na prática social a respeito de determinado conteúdo. A problematização é também o questionamento do conteúdo escolar confrontado com a prática social, em função dos problemas que precisam ser resolvidos no cotidiano das pessoas ou da sociedade.
O terceiro passo é a instrumentalização que são as ações didático-pedagógicas para a aprendizagem. A instrumentalização é o caminho pelo qual o conteúdo sistematizado é posto à disposição dos alunos para que assimilem e o recriem e, ao incorporá-lo, transforme-o em instrumento de construção pessoal e profissional.
Nesta etapa, o professor deve trabalhar o conteúdo de modo sistematizado, buscando equacionar, conceitualmente, os problemas levantados na etapa anterior. Isso só ocorrerá, havendo aprendizagem desses conteúdos pelos educandos. É nesta fase que, de fato, ocorre a aprendizagem do conhecimento científico, ou seja, dos conceitos científicos. É nesta etapa que se efetiva o processo de mediação docente.
As atitudes e ações do professor e dos alunos ocorrem em três momentos, a saber: Primeiro momento – antes da aula; segundo momento – durante a aula e terceiro momento – após a aula.
O quarto passo é a catarse - expressão elaborada da nova forma de enfrentar a prática social. A catarse é a síntese do cotidiano e do científico, do teórico e do prático a que o aluno chegou. Neste momento, o aluno traduz oralmente ou por escrito a compreensão que teve de todo o processo de trabalho. Expressa a sua nova maneira de ver o conteúdo e prática social.
Ao professor cabe, nesse momento, criar mecanismos avaliativos para perceber se, de fato, essa síntese mental ocorreu e como ocorreu, para, com isso, propiciar a realização do último passo – prática social final.
O quinto passo é a prática social final do conteúdo, a nova proposta de ação a partir do conteúdo aprendido. A prática social final, em seus fundamentos teóricos, é a ocasião em que o aluno comprova através de ações ou intentos que aquele conteúdo vivido, problematizado, teorizado e sintetizado mentalmente, agora é capaz de modificar a sua existência. Trata-se de um retorno à prática social.
Sobre os procedimentos práticos, da prática social final do conteúdo, pode-se afirmar que a realização dessa fase com os alunos, em sala se aula, envolve basicamente dois pontos: 1) nova atitude prática, 2) proposta de ação.
Segue abaixo indicação de algumas obras que melhor ajudarão a compreender o método histórico-dialético; a pedagogia histórico-crítica bem como sua didática.
Bons estudos a todos!
Bibliografia
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação? 8ª Ed., São Paulo: Editora Brasiliense, 1983. (Coleção Primeiros Passos).
GASPARIN, João Luiz. Uma didática para a pedagogia histórico-crítica. 5ª Ed ver., 2. Reimpr. Campinas-SP: Autores Associados, 2012. (Coleção educação contemporânea)
LOMBARDI, José Claudinei. Algumas questões sobre educação e ensino em Marx e Engels. Revista HISTEDBR On-line, Campinas, número especial, p. 347-366, abr2011 - ISSN: 1676-2584.
MANACORDA, Mario Alighiero. História da educação: da antiguidade aos nossos dias. Trad. De Gaetano Lo Monaco. 8ª Ed. São Paulo: Cortez, 2000.
MARSIGLIA, Ana Carolina Galvão. A pedagogia histórico-crítica na educação infantil e ensino fundamental. Campinas-SP, Autores Associados, 2011. (Coleção Educação Contemporânea)
SAVIANI, Dermeval. Escola e democracia. São Paulo : Cortez : Autores Associados, 1987.
____________. “Modo de produção e a pedagogia histórico-crítica”. Germinal: Marxismo e Educação em Debate, Londrina, v. 1, n. 1, p. 110-116, jun. 2009. Acesso eletrônico pelo seguinte link: http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/germinal/article/view/2649/2303.
*Márcia Aparecida Schuveter: Mestre em Educação (Unesp), Especialista em Alfabetização;Especialista em Psicopedagogia, Pedagoga.
*José Benedito de Barros: Mestre em Educação (Unesp), Especialista em Direito; Bacharel em Ciências Jurídicas; Licenciado em Filosofia.
O presente texto pretende apresentar de forma sucinta os pontos fundamentais de uma didática para pedagogia histórico-crítica que é uma tradução pedagógica do método histórico-dialético. Não faremos referência explícita a este ou aquele autor, pois nosso intuito é incentivar a leitura dos autores nos quais nos baseamos. Para isso, no final do texto indicamos uma bibliografia básica para leitura e reflexão.
O método histórico-dialético tem três elementos fundamentais: a afirmação (tese), a negação (antítese) e a superação (síntese).
Quando se analisa a realidade utilizando-se o método histórico-dialético, parte-se da prática social (realidade). Essa prática social é confrontada com a teoria. Após esse confronto, volta-se à prática social, mas com um instrumental que possibilita a superação daquela prática social inicial.
A pedagogia histórico-crítica tem como ponto de partida uma análise crítica do modo de produção, ou seja, a forma como em uma determinada sociedade os seres humanos produzem sua existência. Um modo de produção tem pelo menos dois elementos fundamentais: as forças produtivas, também conhecidas como meios de produção (indústrias, máquinas, terras, ferramentas) e as relações de produção (respondendo-se às perguntas: “quem produz?”, “para quem produz?”, “para que produz”, “quem se apropria do que é produzido?”, etc.). O estudo das relações de produção nos mostra se uma sociedade é dividida em classes sociais ou se é uma sociedade sem essa divisão; se as relações são de exploração ou não; se se trata de uma sociedade marcada pela competição ou pela cooperação.
A pedagogia histórico-crítica propõe: a união entre trabalho intelectual e manual (pensar e fazer); a união entre estudo e trabalho produtivo; a formação politécnica; a formação integral do ser humano; a formação para a cooperação; uma educação para formar o cidadão autônomo, crítico, participativo e engajado em sua comunidade visando à superação de sua situação inicial. Para que isso aconteça essa pedagogia defende que os alunos devem ter acesso aos conhecimentos científicos produzidos pela humanidade, cabendo à escola a função de fazer com que os alunos tenham acesso a eles.
Para possibilitar o acesso dos alunos ao conhecimento o professor em seu trabalho em sala de aula deverá seguir cinco passos: levantamento da prática social inicial e do conhecimento que o aluno e o professor já têm sobre o conteúdo a ser trabalhado; problematização; instrumentalização; catarse; e prática social final do conteúdo.
Quanto ao primeiro passo, a prática social inicial e os conhecimentos que aluno e professor já têm sobre o conteúdo trata-se de uma preparação, uma mobilização do aluno para a construção do conhecimento escolar. É uma primeira leitura da realidade, um contato inicial com o tema a ser estudado. Uma das formas para motivar os alunos é conhecer sua prática social imediata a respeito do conteúdo curricular proposto.
Cabe ao professor nesse momento, fazer o anúncio dos conteúdos, instigar o aluno para a vivência cotidiana dos conteúdos, mostrando-lhes que o mesmo, de uma forma ou de outra, está presente no seu cotidiano, tirando-lhes da tradicional posição de meros receptores de um conteúdo já pronto.
O segundo passo é a problematização, que é a explicitação dos principais problemas da prática social. Trata-se de um processo de busca, de investigação para solucionar as questões em estudo, é o caminho que predispõe o espírito do educando para a aprendizagem significativa, uma vez que são levantadas situações-problema que estimulam o raciocínio.
Essa problematização tem como finalidade selecionar as principais interrogações levantadas na prática social a respeito de determinado conteúdo. A problematização é também o questionamento do conteúdo escolar confrontado com a prática social, em função dos problemas que precisam ser resolvidos no cotidiano das pessoas ou da sociedade.
O terceiro passo é a instrumentalização que são as ações didático-pedagógicas para a aprendizagem. A instrumentalização é o caminho pelo qual o conteúdo sistematizado é posto à disposição dos alunos para que assimilem e o recriem e, ao incorporá-lo, transforme-o em instrumento de construção pessoal e profissional.
Nesta etapa, o professor deve trabalhar o conteúdo de modo sistematizado, buscando equacionar, conceitualmente, os problemas levantados na etapa anterior. Isso só ocorrerá, havendo aprendizagem desses conteúdos pelos educandos. É nesta fase que, de fato, ocorre a aprendizagem do conhecimento científico, ou seja, dos conceitos científicos. É nesta etapa que se efetiva o processo de mediação docente.
As atitudes e ações do professor e dos alunos ocorrem em três momentos, a saber: Primeiro momento – antes da aula; segundo momento – durante a aula e terceiro momento – após a aula.
O quarto passo é a catarse - expressão elaborada da nova forma de enfrentar a prática social. A catarse é a síntese do cotidiano e do científico, do teórico e do prático a que o aluno chegou. Neste momento, o aluno traduz oralmente ou por escrito a compreensão que teve de todo o processo de trabalho. Expressa a sua nova maneira de ver o conteúdo e prática social.
Ao professor cabe, nesse momento, criar mecanismos avaliativos para perceber se, de fato, essa síntese mental ocorreu e como ocorreu, para, com isso, propiciar a realização do último passo – prática social final.
O quinto passo é a prática social final do conteúdo, a nova proposta de ação a partir do conteúdo aprendido. A prática social final, em seus fundamentos teóricos, é a ocasião em que o aluno comprova através de ações ou intentos que aquele conteúdo vivido, problematizado, teorizado e sintetizado mentalmente, agora é capaz de modificar a sua existência. Trata-se de um retorno à prática social.
Sobre os procedimentos práticos, da prática social final do conteúdo, pode-se afirmar que a realização dessa fase com os alunos, em sala se aula, envolve basicamente dois pontos: 1) nova atitude prática, 2) proposta de ação.
Segue abaixo indicação de algumas obras que melhor ajudarão a compreender o método histórico-dialético; a pedagogia histórico-crítica bem como sua didática.
Bons estudos a todos!
Bibliografia
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação? 8ª Ed., São Paulo: Editora Brasiliense, 1983. (Coleção Primeiros Passos).
GASPARIN, João Luiz. Uma didática para a pedagogia histórico-crítica. 5ª Ed ver., 2. Reimpr. Campinas-SP: Autores Associados, 2012. (Coleção educação contemporânea)
LOMBARDI, José Claudinei. Algumas questões sobre educação e ensino em Marx e Engels. Revista HISTEDBR On-line, Campinas, número especial, p. 347-366, abr2011 - ISSN: 1676-2584.
MANACORDA, Mario Alighiero. História da educação: da antiguidade aos nossos dias. Trad. De Gaetano Lo Monaco. 8ª Ed. São Paulo: Cortez, 2000.
MARSIGLIA, Ana Carolina Galvão. A pedagogia histórico-crítica na educação infantil e ensino fundamental. Campinas-SP, Autores Associados, 2011. (Coleção Educação Contemporânea)
SAVIANI, Dermeval. Escola e democracia. São Paulo : Cortez : Autores Associados, 1987.
____________. “Modo de produção e a pedagogia histórico-crítica”. Germinal: Marxismo e Educação em Debate, Londrina, v. 1, n. 1, p. 110-116, jun. 2009. Acesso eletrônico pelo seguinte link: http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/germinal/article/view/2649/2303.
*Márcia Aparecida Schuveter: Mestre em Educação (Unesp), Especialista em Alfabetização;Especialista em Psicopedagogia, Pedagoga.
*José Benedito de Barros: Mestre em Educação (Unesp), Especialista em Direito; Bacharel em Ciências Jurídicas; Licenciado em Filosofia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário